Esqueci os vestidos que não eram grande coisa, as palmas estranhas da Nicole Kidman ou mesmo o barraco que foi o final dos Oscars. Ai e tal o vencedor é outro, sorry..
Eu quando bati os olhos nestas fotos, quase jurei que era a minha pessoa, era a minha versão celebridade, alma gêmea, duas gotas de água, ela era metade de mim que ali vagava ao lado do John Legend.
Ela dormia, fazia uma soneca, passava pelas brasas, pensou vou só fechar os olhos por um bocadinho de quase nada. Era eu que ali estava, adormecer é o meu mote de vida. Não te embaraces, nada de vergonhas ou receios, é simples, natural e ninguém repara. Mas não, todo o mundo viu e graça aos santinhos que não havia rastos de baba a escorrer e a manchar ali o ombrinho do marido.
Pergunto-me é se acordou a tempo de ver aquele final hilariante de vergonha alheia.
Hoje é a noite do glamour, tapete vermelho, Oscars polidos e brilhantes. Gente bonita ou mesmo feia a desfilar, muitos vestidos caros, atentados de moda, ideias de última hora, discursos fabulosos, muitas lágrimas entre risos, piadas que não lembram a ninguém, os vencedores com o seu galardão e os perdedores com a sua auto-estima em baixo mas engolem toda essa frustração e poker face que a vida continua, há sempre mais um filme e ninguém tem pachorra para o mau em perder.
Eu queria lá estar, não pelas celebridades, não pelas fatiotas ou a pompa da festa, mas pela comida. Essa, seja winner, loser ou simples convidado para encher os lugares no grande átrio, deve ser um consolo para alma, afogar as mágoas ou para celebrar a vitória. A comida completa as nossas falhas, preenche-nos e responde às nossas necessidades do momento. E aquela que vai ali ser servida, deve ser boa para xuxu. Um regalo para os olhos, o estômago bate palmas e a boca saliva. Sim, tenho aqui claramente um problema.
E se não fosse pedir demais, só queria também um lugarzinho entre o Leonardo DiCaprio e o Tom Hanks. Na mesma mesa, se já não tiver abusar, a Meryl Streep, Michael Fassbender, Kate Winslet e por favor o Jackie Chan. Muito Agradecida... ah que ricas conversas que iria ali ter, de durar a noite toda, vermos as estrelas juntos e ainda irmos comer um caldozinho verde ali em Santos. Sou uma moça de gostos simples.
Chamo-me Isabel e sou uma viciada em séries, não sei a quantas ando, desde ficção, drama familiar acabando em comédias, vejo de tudo e não sou esquisita. Algumas cativam, outras esqueço e depois há aquelas que são de coração e até se riscam os dias para o seu regresso.
Nisto, adoro Pilots, aquele primeiro episódio é o desembrulhar de um presente que parece ser divinal, o touché dos presentes. Se será uma desilusão isso fica para depois assimilar mas aquela primeira sensação ninguém apaga. Sendo assim, como já tenho pouca coisa para ver e este mês é daqueles onde as favoritas retomam, achei que ver "Imposters" não calhava mal. Tanto o resumo como a cotação pareceram-me bem e gostei. É certo que fiquei com mais uma a seguir, e é também certo que não tarda nada perco-lhe o rasto e fica no vale do esquecimento.
Porém assim a meio do episódio quase que cuspo o chá e atiro a bolacha à televisão em modo de protesto. Passo a explicar, uma das personagens tenta acalmar o amigo em puro acesso de loucura, pois a mulher que é uma impostora, fugiu com todo o seu dinheiro, nem a lua-de-mel deles tinha esfriado. Mas a personagem em questão desconhece essa parte, pensa que ela, a esposa francesa, apenas saiu de casa porque já não lhe tinha amor, coitado. E sai-se com esta pérola:
"I feel like sometimes people just fall out of love.
And they do dramatic things, special europeans."
Especialmente os europeus? Perdão, não devo ter ouvido bem. Deve ter sido um erro de escrita. Deverei relembrar os argumentatistas que não foram os europeus, a votar em Donald Trump, certo? Se isso não foi algo minimamente dramático ou estúpido não sei o que chamar-lhe. E nem vou sequer abordar os programas, exemplos máximos de cultura americana, que dão no TLC que isso já é calhandrar sobre a desgraça alheia.
Contudo questiono-me donde surgiu esse estereótipo na América, que nós os europeus somos um grupo de doidos, cheios de ideias erráticas e que, pelos vistos, segundo estes, também gostamos em ter tudo ao léu para o bom povo apreciar.
Acredito mesmo, que o "andar nu", deve ser o primeiro critério que as crianças americanas aprendem na escola no capítulo "Como distinguir um europeu de um americano". E assim se houver alguém em pelota ou a mostrar as mamas na Times Square, tirem foto que é certo e sabido que é europeu. Toda a gente sabe, é senso comum, vem na enciclopédia, e até no dicionário a palavra europeu é descrita como povo que habita a Europa e anda ocasionalmente desfraldado.
Torna-se alarmante, visto que, são várias as referências aludindo a este tema que já encontrei, seja em filmes, séries, sitcoms ou mesmos naquelas piadas que fazem nos programa da noite como o The Late Night Show ou o Conan O'Brien.
Se calhar, têm razão e sou eu que tenho vivido toda uma vida na ignorância. Vestida dos pés à cabeça. Digam-me, é verdade? Há um dia e lugar próprio para isso? Tipo a terceira quarta feira de cada mês nas áreas do Pavilhão Atlântico para todos os residentes na grande Lisboa?
Estou nos 25, se for a verificar que é tradição ainda tenho três quartos de século para arejar tudo o que tenho.
Ps:. Bem depois claro que existem excepções, e há gente nua andar pela Amadora como veio ao mundo. Casos raros estes.
Depois de cinco noites a dar no duro com muito caos e demência, não era eu a doida, garanto. Fiz a última, antes disso, amarrou-se ainda um senhor à cama tal era a desordem que ia no serviço. Saí, fui para casa. Dormi três horas, fui almoçar. Passei o dia fora, voltei a casa, tentei adormecer, não estava acontecer. O corpo não queria, recusava-se, ele queria festa, sambar para algum lado, fazer um jantar para vinte pessoas, escrever um livro, correr quilómetros, aprender uma língua nova, subir montanhas. Sei lá o que ele queria, dormir é que não, estava fora de questão. Arranjei solução, ver um filme. Passengers. Adormeci. Acordei 6 horas depois para ir trabalhar mais um turno de 8 horas. Um olho aberto e outro esquizofrênico. As pessoas perguntavam, pareces cansada, estas cansada, eram um coro, nem resposta dei. Revirar dos olhos, é o que merecem. A meio, alguém colocou doença no fim-de-semana, questionaram-me. Isabel podes vir fazer tarde? O meu olhar disse tudo, madrasta mal amada misturado com um vai à merda. Mas eles não percebem, então quase que escrevi a palavra "nein" na parede, tal era a insistência. Acabei. Estou livre e tenho o fim-de-semana livre.
Isto de trabalhar por turnos, mata as pessoas cedo.
O gelado é para eles o nosso pastel de nata, recomenda-se o ano inteiro e sabe sempre bem. Faça chuva ou faça sol, ele está ali presente como a primeiríssima sobremesa de eleição, a predilecta seja em copo ou cone, com toda a sua pompa pronto a ser devorado. Agora é fácil falar sobre o assunto sem torcer o nariz, mas demorou a entranhar, porque o choque do início, esse, foi difícil de digerir.
Quando parti para Hamburg, estávamos em novembro, era inverno e o frio de Portugal é um menino de fraldas comparado com o que se vive aqui. Presenciei os mais belos estados e fúrias que o inverno tem para oferecer. Desde a neve, à chuva todo o santo dia e a tornados, tudo berrava "Winter is here" por uma unha negra não me cruzei com um white Walker. Os meus ditos casacos de inverno de Lisboa deixaram de fazer sentido em Hamburg, eram o inútil materializado, eles eram nesta terra malha para o verão.
Estão a ver o quadro, certo? Com isto uma pessoa espera comidas e bebidas quentes, que confortem, daquelas fumegantes que embaciam os óculos e aquecem a alma, sobretudo a ponta do nariz que corremos o sério risco de a perder. Mas não, isso é secundário, o que está na berra são os gelados. Povo sádico e sem coração pensei eu.
Posto isto, qualquer altura é perfeita para um gelado mesmo quando nos arriscamos a ficar com a língua colada a meio da bola de coco e chocolate devido à estupidez de frio que se faz. Desde crianças aos velhos tudo é varrido com esta anormalidade. Eles lambuzam-se, trincam, têm prazer, vivem para aquele momento como se estivessem com a última coca-cola do deserto.
Eu não percebia, como era tola e ingénua, o meu conhecimento era parco e preconceituoso, mas hoje sei. Hoje, eu alcancei a luz. E em pleno inverno, onde as árvores despidas são a paisagem, os corvos gralham e esporadicamente existe vivalma, estou eu, forrada com um casaco polar de meio metro, uma manta que dá duas voltas ao mundo, luvas de pêlo que as mãos sofrem e umas botas de cano tão alto quanto o Evereste, e neste aparato todo, como toda catita o meu gelado. E é bom, muito bom, confesso.
Dou por aberto uma rubrica nova, onde o tema é esta nobre profissão, segundo a minha mamacita, que escolhi. Se é realmente nobre já acho um tema discutível. Desgostos, alegrias e desabafos de uma enfermeira desterrada em Hamburg.
Ando de noites, cinco ao todo. E como eu gosto das noites, da calmaria, do estar sozinha para 24 doentes, se não forem 26, visto que, temos não oficiais, duas camas de corredor. Daquele silêncio bom que é ocasionalmente perturbado por uma campainha a pedir-me água, rezando para que não seja algo pior.
Nisto há vários tipos de doente, um dia hei-de debruçar-me sobre este tema, contudo nunca me tinha calhado conhecer o Grumpy em pessoa, só virou humano e cresceu mais dois metro e meio e é alemão. Terceira noite e o senhor é um dissabor desde o despontar do sol às seis da matina até à hora de dormir. Estou com ele cinco minutos, máximo dez para colocar o antibiótico e saio do quarto a suplicar por unicórnios e arcos íris.
Ele refila, está zangado, tem críticas sobre tudo e sobre o nada. Se vê uma nesga de sangue é caso de vida e de morte. Eu tento acompanhar este atropelamento de reclamações mas após quase nove horas de trabalho e às 5:30 da manhã o cérebro restringiu a sua actividade para metade.
Então hoje respondi-lhe que a vida era muito curta para estar sempre zangado, ele, no seu alemão e entre dentes mandou-me à merda. E é isto. Uma pessoa dá um singelo conselho de filosofia barata e leva esta rebocada. Toda uma nobreza ser-se enfermeiro.
Justin Trudeau, não sei se já puseram os olhos como deve ser neste senhor importado do Canadá. Ele aparenta ser a imagem real de um gentleman dos dias de hoje. É o Primeiro-ministro do Canadá desde novembro de 2015, e bem que podia haver mais políticos como ele. Se tal fosse, acredito que o mundo caminharia para uma versão bem melhor que esta que temos. Genuinamente envolvido com os problemas da actualidade, esforça-se por dar vazão às necessidades do seu povo e encontrar soluções. Responde com pertinência e não deixa nada ao acaso, feminista, inteligente e as verdades são para ser ditas, é bonito que dói. Um bálsamo para a vista, assistir aos seus discursos é tudo menos enfadonho, garanto.
Casou-se com a moça que conheceu na infância e que mais tarde reencontrou num baile de caridade, têm três filhos a conta que Deus fez, digam-me, há algo mais clichê que isto? Não pois não, mas não deixa de ser encantador e não sou a única achar isso, como podem ver.
Mas até ele é um comum mortal como nós, e há sapos difíceis de engolir.
Tinha o meu voto garantido se esta fosse a imagem da campanha. Sim senhor, para seguirem mais, há o link do Facebook onde poderão ver esta criatura mística discursar: https://www.facebook.com/JustinPJTrudeau/
Ganhei algum tempo e motivação para escrever sobre este filme sensação, de que toda a gente fala, o musical do ano, o filme dos Oscars 2017 e mimimimi. Aviso que este post ao contrário do que tenho escrito até ao momento sobre filmes, contém spoilers, porque não consigo resumir a minha opinião sem dar dados concretos, sumarentos do meu ponto de vista sobre este filme.
Eu vi esta pérola duas vezes, e das duas vezes não me cativou, não me fez lançar suspiros nostálgicos e exclamar alto e bom som "ai que o amor é fogo que arde sem se ver". Não não não, pelo contrário se o lema é a melodia do amor eu diria que é publicidade enganosa e veremos durante duas horas e oito minutos uma ode ao clichê, onde o amor deixou de fazer labaredas e temos aquela cinza rala que fica após uma boa fogueira.
A minha vontade de ver o filme era abaixo de negativos e picos. Moço que é pianista conhece moça que é actriz, destino mais destinado não poderia ser, pois encontram-se em todo o lado e é do género quanto mais me bates mais gosto de ti. Até que parece dar tudo certo mas não, que a vida traz os seus arrebites e agruras que vem estorvar a relação. E eles separam-se, cada um vai atrás do seu sonho e o final do filme é o reencontro após alguns anos. Onde ehlecas poderíamos ter ficado juntos, concretizado os nossos sonhos, ter uma casa e uma ama para cuidar do filhote, mas a vida não é perfeita e o amor também não. Lição apreendida, obrigada.
Isto não é novo, qual é o romance que não tem por bases esta fórmula. Por isso dei a chance, arrisquei, pensei eles devem conseguir dar volta, dar-lhe ali um Twist que o vai tornar diferente. Bem, não posso afirmar que não o fizeram, eles tentaram e houve música, dança, cor tudo aquilo que um musical tem direito. Algumas destas músicas são lindas, outras meio que estão notoriamente a mais.
Porém perderam-se, e eu perdi-me naquela salganhada pois não sabia se a época do filme era os anos 50 ou actual pois de repente ouvia-se um iPhone a tocar, havia Prius e penteados elaborados, todo o mundo vestia-se como se caminhasse para a Rainbow Land e andar com sapatos de sapateado na mala é um must-have do quotidiano de qualquer moça singela que se preste.
Contudo, quando uma pessoa tinha finalmente entranhado naquele ambiente bipolar, os protagonistas sobem às nuvens como se de um sonho tratasse e dançam uma valsa. Foi a gota de água, e se eu gosto de musicais! De mexer o pé e daquela agitação que provoca adrenalina, dando vontade de saltar da cadeira e fazer figuras. Pois, não aconteceu, e o máximo de agitação que atingi foi abrir a boca de tédio. Nem o senhor Ryan Gosling a ser um gentleman me deixou com um sorriso de orelha a orelha.
Estão a ver o frete a animação que foi para mim, a minha mãe dormiu, mas ela dorme sempre por isso não é um bom indicador, todavia, e vão ficar surpreendidos, gostei da Emma Stone. Ela é a estrela, vai do rir ao chorar como um Tesla atinge os 100 km em 2,5 segundos (pesquisei na net, óbvio), dança e canta como ninguém. A parte inesquecível do filme é um dos momentos finais, em que ela vai a uma audição e canta. Foi óptimo, o expoente máximo, a minha parte favorita, não que fosse difícil neste filme, mas arrepiou e fez-me lembrar a desgraçada da Fantine nos Miseráveis.
Assim percebo a sua nomeação para o Oscar de melhor actriz, as outras nomeações nem tanto, pois não consigo apreender o burburinho e agitação à volta do filme. No entanto, com Academia é sempre assim, eles pensam diferente e mais à frente do que o comum mortal. Portanto o problema é meu, que sou tacanha e mesquinha.
Um ponto importante, não se esqueçam da lição major do filme, acreditem e sigam sempre os vossos sonhos. Deixo-vos com a música "The Fools Who Dream", a tal que ela canta no final mas num cover por Sarah Joy tocando violoncelo, divinal.
Hoje é mais um de tantos dias de "até já", porque a despedida não é para aqui chamada, abomino-a pela sua natureza tão forte, o seu significado é triste, melancólico, de finitude, faz doer. Intensifica a mágoa de quem parte e daqueles que ficam e quando dás por ti as lágrimas estão ali, prontas a embaciar a vista e como que virulentas já todo o mundo chora abraçado a ti. E este quadro é pesado de assimilar, de arrumar alguma coragem e embarcar.
Por isso, um "até já" funciona melhor que um "adeus", como se fosse só a Santa Cruz ver o mar e sentir a sua brisa brava, vou e volto noutro pé. É rápido, e o tempo cuida de passar depressa sem darmos por isso. E se eventualmente dermos por isso, temos as saudades, que alimentam os nossos dias e os fazem andar até aquele dia que finalmente dizes um "até já" à cidade que já não é tão estranha e vais para casa.