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Monstera Amarela

Palavras soltas sobre coisas improváveis, situações mundanas, mágicas inertes e sonhos nómadas.

Monstera Amarela

Palavras soltas sobre coisas improváveis, situações mundanas, mágicas inertes e sonhos nómadas.

24.Abr.17

Germanices: Um pitéu dizem eles

Há tempos que não pegava nesta rubrica, um dos principais motivos de criar este blog. Não que falte tema, não senhor, há tantos pormenores desta cultura que dá para ambos os evangelhos e mais algum que alguém se pronte a escrever. Apenas tem faltado tempo e mesmo vontade para debruçar-me de cabeça sem dó nem piedade na cultura destes nossos vizinhos mal compreendidos.

 

Seguindo em frente, hoje dedico-me à culinária, vou que nem a Dora explorar esta enorme rica e variada cozinha, cheia de sensações e sabores novos. São tantos os pratos típicos que nem sei para onde me virar. Acreditem, quando digo que há mais na cozinha alemã que vai para além das salsichas.

 

Gente, tomara que todo o parágrafo anterior fosse verdade, decerto que seria uma moça mais feliz nesta cidade. Todos os países para onde viajo, os que me ficam a latejar na memória são os que têm as melhores iguarias, mais que as paisagens e os lindos monumentos, dêem-me um prato com comida típica e logo vos digo se fiquei ou não apaixonada.

Chega ao ponto de ser caso para voltar só para entrar naquele mesmo restaurante.

Aqui em Hamburg, a história é diferente, há pratos bons mas nada que me faça perder a cabeça, quando regressar creio que será pelo meu amado Quan do, um restaurante vietnamita que me alimenta a alma.

 

Apesar disso, sem pessimismos que nem tudo é mau, um dia dedico-me às salsichas, que realmente fazem o estômago bater palminhas. Mas por hoje a ementa é outra.

Após esta introdução, estão preparados?

É um pitéu, comida dos deuses, nada fica de fora, todos querem um bocadinho e vêem-se pequenos laivos de saliva por todo o lado. Os olhos, gananciosos, comem-no logo antes que dê tempo para suspirar.

 

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Labskaus. É o seu nome. Nada complicado. É um prato bastante famoso nestas bandas, típico alemão na zona norte e ainda por cima com história. Não é carne, nem peixe, nem legumes, nem batata ou fruta. Mas sim, uma salganhada disto tudo menos a fruta, misturado, triturado e servido num prato branco, com um belíssimo ovo estrelado por cima a decorar.

 

É o que eu digo, só gente peculiar, são um povo que cozinha pouco e do que cozinham saem-se com este belo exemplar que só à minha gata é que estaria tentada a dar.

Se eu cheguei algum dia a provar? Claro que sim! Não sou moça de se ficar quando dão algo a experimentar mesmo que meta as minhas tripas à prova e tenha que engolir o meu nojo desdém. Pois bem, armei-me com coragem, deixei de respirar para anestesiar os sentidos e com uma colher contendo uma amostra tão pequenina que nem a sininho alimentava levei à boca.

 

E txanarammmmmmmmmmm odiei! Mentira, gostei, falo a sério era delicioso, estranho mas depois de entranhado comia-se tão bem quanto papas cerelac, colher atrás de colher.

Fiquei redondamente atónita, e aconselho a qualquer um que tenha estômago e curiosidade em embrenhar-se nesta cultura que peça esta iguaria.

Como qualquer receita existe a boa e a má por isso procurem um restaurante bom lá para as zonas de Hamburg ou Bremen com comida típica alemã e deixem-se ser surpreendidos.

 

No que toca à história, a criação divina veio dos marinheiros, que em alto-mar sem qualquer método de conservação dos alimentos eficaz, recorriam a legumes em conserva como pickles, beterrabas e outros que não eram tão perecíveis como as cebolas, batatas e ovos. Tudo isto era cozinhado conjuntamente com a carne que era conservada em sal, daí o seu tom rosado.

Hoje pode ser encontrado em variadas versões, com ou sem peixe, um arenque enrolado acompanhar ou o tal belo do ovo estrelado.

 

A história mais uma vez ensina-nos que a sobrevivência dá azo a pratos que são hoje ricas e saborosas iguarias.

22.Abr.17

13 Reasons Why

Sou uma papa-séries logo vi "13 Reasons Why" antes de ter reparado que todo o mundo falava desta e do fenómeno que era, das melhores séries dos últimos tempos, que qualquer pessoa especialmente os pais deviam ver.

Exclamam de pulmões cheios que faz um serviço à sociedade alertando para os perigos do bullying e as suas terríveis consequências na jovem mente de um adolescente. E bem sabemos como aquela mente pode ser enganadora e limitada, vive somente naquele mundo, uma esfera envolvendo o básico/liceu e para mal dos nossos pecados não se vê em mais lado nenhum. "Vida pós-escola? Mas que m** é essa?"

 

Gostei da série, mas fico-me pelo gostar e nada mais, tem uma história interessante, aplaudo pelos actores escolhidos, são tudo malta nova nestas andanças da televisão, o que é sempre bom, ver novas caras e talentos, quem sabe não serão o actor/actriz sensação no futuro.

 

Sendo eu uma papa-séries nada anônima vi todos os episódios em três tempos.

Contudo fiquei dividida quanto à história, daí ter-me ficado pelo gostar, por um lado achei que o tema era importante, por outro achei que davam demasiado importância a pequenas situações, que de relevante nada tinham e que roçavam ali a linha do drama/fantasia tão próprio da televisão.

 

Depois houve algo que me deixou os nervos em franja em níveis considerados perigosos, e o que foi? A passividade, irra mas que gente tão passiva. Desde a passividade do Clay que demora eternidades a ouvir as cassetes alegando que era demasiada areia para a sua cabeça e que não conseguia assimilar, coitadinho só me apetecia entrar na tela para lhe pregar dois tabefes, passando pela passividade dela, Hannah sei que é difícil mas reage moça, reage!

 

O psicólogo da escola é outro, tirou o curso de três semanas na net, está explicado. Não esquecendo o atinado de cabelo à escovinha e blusão de cabedal com bruto carro que anda para ali com segredinhos e meio sorriso amarelo a espalhar aos quatro ventos que está cheio deles mas contar está quieto.

Sempre ouvi dizer, que quem ajoelha tem que rezar, não deve ter tido a mesma educação que eu.

 

Enfim, colocando este problema da passividade de lado, que creio ser um mal geral nesta série e que infelizmente toca a todos um pouco, uma cena muito bem conseguida, é a do suicídio.

Está realmente poderosa, muito pela interpretação da Kate Walsh que faz de mãe da Hannah. Mais não digo, que acho que já roço os spoilers. E ai de mim se o fizer.

 

Os diálogos entre as personagens são inteligentes por vezes demasiado profundos e ligeiramente fora do tom, eles são adolescentes passivos mas no que toca a filosofia devem tirar nota 20. O que desacredita o que estamos a ver. Já a banda sonora é de bater palmas, se não for pela série que seja pela música.

 

Fazendo marcha-atrás e regressando ao primeiro parágrafo, se faz um serviço à sociedade, digo que não devemos exagerar.

Pois a realidade não é tão linear quanto mostra a série, no entanto, nesta podemos ver a influência que as redes sociais têm na dinâmica entre os jovens na escola. E esse ponto sim, é de ressalvar.

 

Seja para adultos ou adolescentes, evoluímos tanto, temos toda a tecnologia ao nosso dispor, tudo à distância de um clique preparado desta forma para facilitar a vida e apesar disso parece que encontramos sempre formas criativas de agredir o outro.

O mundo é pequeno e mesquinho quando vivemos dentro das redes sociais, somos escravos em troca de cliques e gostos, que pobreza de se viver, a empatia algo tão humano e repleto de contacto fica ali perdido entre tanto megabyte.

 

Tanta evolução tecnológica anda de mão dada com a regressão da consciencialização e descida de QI. Será que a estupidez é o futuro da humanidade? Cruzes, espero que não seja a nossa sina.

 

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19.Abr.17

Miminhos da Mãe

Desde tempos idos que a minha mãe tem um hábito, ela surpreende-me com flores que colhe em jardins alheios. Não pensem que são ramos que enchem jarras ou grandes ramalhetes floridos e que o jardim ficou depenado para tristeza do dono.

 

É somente uma única flor, e com esse gesto diz-me que o nosso amor é assim, simples sem grandes artimanhas e bonito quanto aquela flor. Mesmo quando a distância separa-nos entre Hamburg e Lisboa, recebo por vezes fotos de flores que foram colhidas e que estão ali no meu quarto a dar cor, quiçá a encher um vazio. 

 

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18.Abr.17

Viagens a dois

Neste fim de semana rumamos ao norte, o local escolhido para um fim-de-semana a dois era Braga, na ida ainda fizemos um desvio, entramos em Coimbra e fomos conhecer a afamada Quinta das Lágrimas.

 

A frase "vamos ao Minho" desperta sempre a criança que há em mim.

O coração fica apertado de ansiedade e o espírito dá urras de felicidade. Um misto de viver à milésima o presente embrulhado numa nostalgia de outros tempos de quando era menina a "deliciar-me" com uvas verdes roubadas de algum jardim, a enfrentar as temerosas galinhas quando ia buscar os seus adorados ovos e as maminhas com manteiga acompanhado de café e leite feito no fogão a lenha só sabem realmente bem ali.

 

Criei tantos mundos quanto a minha imaginação o pôde permitir. É um lugar encantado com cheiro próprio onde fui tão feliz.

 

E em Braga também fui, vi tantas igrejas quantas farmácias 24 horas por dia abertas. A procissão do enterro do Senhor foi uma experiência no mínimo caricata e estar nas ruas mergulhadas naquele sotaque tão ferrenho e sincero é divinal. Não gosto de Pão-de-Ló e nestes três dias marchei doses industriais deste.

 

O hotel, Villa Garden Braga, era um antigo Palacete, lindíssimo e confortável, só quero um dia puder ter uma cama de dimensões tão estupidamente grandes como aquela onde dormi. Para além disso servem um pequeno almoço de reis. E olhem que este ponto é tão importante para mim, pois se for mau é certo que fico de trombas de madrasta mal amada o resto do dia.

 

Palmeada a cidade e vistas algumas das igrejas, aproveitamos o bom tempo e demos um pulinho aterras mais a norte onde já entramos no imenso e deslumbrante Parque Nacional da Peneda-Gerês. Ali alugamos uma gaivota e molhamos os pés no rio Cávado. Já sentados na margem contemplamos a vista, tendo por companhia um nada envergonhado lagarto verde que estava, também como nós, a banhos de sol.

 

Resumindo, é certo que é para repetir mas da próxima vamos ainda um pouco mais acima, ficaremos pelo Gerês para conhecer melhor este parque e gozar de tudo o que esta reserva natural tem para oferecer.

 

É um facto científico, ir ao Minho nunca é uma má ideia.

 

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14.Abr.17

Cinema e Pipocas? Não não não!

Qual é a cena de se comer pipocas no cinema, hein?

Alguém explica, capaz de fazer um desenho, juntar o pontinho a com b e fazer lógica?

 

Sem delongas, é bom. Um prazer de outro mundo, encharcar as minhas mãos em pequeninas coisas melosas, forrar as paredes do meu aparelho digestivo com açúcar que nem a bruxa de Hansel e Gretel com a sua casa pecaminosa.

Açúcar, esse perigo branco que veio a este mundo para extraviar os nossos sentidos, leva a nossa saúde, dá-nos pica para depois deixar-nos na maior das letargias. Ahhh (ler como se tivéssemos a recitar poesia grossa e profunda) que danado! E tudo isto enquanto assisto a um filme? De loucos ! Onde já se viu?!

 

Não sou de demoras, antes do filme começar já o balde está ali garantido nas minhas manoplas. Um mix delas, doces e salgadas para loucura das minhas papilas gustativas que agradecem.

 

Faz barulho? Intromete-se até na experiência de outros verem o filme porque vejam lá, que uma pessoa a comer pipocas é como se tivesse a comer cascalho, a triturar pedras com os dentes, capaz de interferir com o rei dos sons que é a Dolby, que só de si já não é nada alto. Cruzes, que afronta.

 

Li em tempos num blog a dica de amolecer as pipocas na boca. Primeiro ri-me a bandas largas, onde já se ouviu tal coisa e depois experimentei. Juro que o fiz. Mas quase me babei, cuspi-me toda a fazê-lo. Eu sei, estamos no cinema está escuro ninguém vê e tal.. mas nope, já babo o suficiente a dormir para repetir a façanha quando estou em público. Não é bonito, portanto não é solução.

 

Atrevo a partilhar a dica de uma amiga sobre o assunto, que os que não gostam deviam mazé deixar-se de esquisitices peculiaridades e comer pipocas assim não se distraíam com sons alheios.

 

Se com tudo isto, vou procurar outra solução para agradar a troianos? Não, não vou. Vou continuar grega, maravilhosa a esbardar-me com pipocas no cinema pois cinema sem pipoca não é cinema. Não existe um sem o outro, são parasitas de si mesmos, numa relação perfeita de coexistência.

 

Não há ninguém melhor que Adriana Calcanhoto para explicar este sentimento de complementaridade. Almas gêmeas. É verídico.

 

"Avião sem asa, fogueira sem brasa, sou eu assim sem você. Futebol sem bola, Piu-piu sem Frajola, sou eu assim sem você."

 

 

08.Abr.17

Um sonho de férias a dois, só que não.

Ele sempre quis ir a Braga, todas as conversas sobre a cidade começavam com o quão fantástico deve ser Braga, "Braga deve ser mesmo lindo", "eu gostava era de ir a Braga", 'temos de ir lá".

 

Pois bem supresaaa, foi a minha prenda de anos, vamos a Braga e ficar num hotel lindo que era um palácio.

Mais uma vez em conversa, onde o entusiasmo dominava o ambiente. Viro-me para ele e digo-lhe.

  

- Quero subir o Bom Jesus do Monte mas de elevador

- Bom Jesus do Monte?!

- Err.. sim, estamos a falar não só da atracção mais turística como da mais conhecida da cidade

- Ah.. desconheço...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E pronto é isto, Braga é uma cidade maravilhosa mesmo quando não se sabe o que por lá anda.. eu por exemplo, descobri recentemente, que vou no fim de semana onde só se fazem as maiores festas e celebrações cristãs sobre a Páscoa em Portugal. Até encenações fazem!

É tão importante que poderão encontrar tudo detalhadinho no Wikipedia.

 

Ora estas festividades significam um molhe de gente, um encher de pessoas nas ruas e vielas da cidades, católicos de todos os cantinhos e mais alguns de Portugal que querem viver um pouco desta quadra. Ultrapassado este número só mesmo a multidão que vai ver o Papa em Fátima.

 

O que era para ser romântico, calminho, uma celebração íntima, tornou-se uma aventura, uma rebaldaria de quem é que vai sair vivo para contar.

 

Hoje rio-me com desdém daquela Isabel, ahhh que ignorante que ela foi, codinome "A Ingénua" que resolveu marcar férias em Braga na Páscoa.

A ver vamos, talvez o palácio seja longe da metrópole, como quem diz da confusão.

03.Abr.17

A um toque da campainha

Quando a enfermeira também precisa de um divã

 

Eu estou a construir uma teoria, nasceu de uma ideia que preenche muito até demasiado tempo dos meus pensamentos. Vou passo a passo que isto anda devagar e um dia prometo que terei um livro sobre este tema. Vou expor verdades, segredos obscuros. Eeeeeee aqui vai, não se assustem, mas acredito que uma pessoa doente ganha um instinto, uma qualidade se virmos de outro jeito, que tanto mas tanto azucrina os enfermeiros.

 

E que aptidão inata é essa que mal uma pessoa numa amostra de 20 indivíduos quando entra no hospital e fica internada, vem ao de cima como se sempre tivesse à espera de uma oportunidade para valer o seu mérito e mostrar a meio mundo que realmente existe e não é uma invenção?

 

Pois bem, é a arte da inconveniência, uma arte que roça o importuno, é uma mestria de tal ordem que quase sempre acertam na mouche. Após oito horas de trabalho, muita correria, stress, os nossos olhos e nariz (Sim! O olfacto também entra) só querem tréguas, o corpo fechar a loja e colocar o letreiro "Encerrado para descanso merecido", mas contudo, apesar desta "quase euforia" ainda há ainda aquele intervalo, cerca 15-20 minutos, em que estou prestes a passar a pasta para outro, de dizer adios amigo, arrevoir, tschüss que amanhã há mais.. estamos já na dita passagem de turno ou estou a fazer tempo para ir embora, às vezes acontece, contagem decrescente que faltam 5 minutos, 4, 2 e TRRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMM toca uma campainha.

Zás, raios e coriscos! A cabeça tomba e os olhos rolam, só se vê branco.

 

Toda a sua teoria tem por base as suas hipóteses, conjecturas, enfim exemplos da temática em questão. Por conseguinte, exponho aqui os meus.

 

Estou quase a sair da noite, o turno dá-se por finito às 6:13 então às 6:04 é certo e sabido que alguém pede para ir à casa de banho, e precisa de meias, andarilho, um copinho com água para matar a sede, quiçá aquela bolacha esquecida do jantar de ontem, pelo meio tem também uma infusão a correr e no final ainda pede para lavar os dentes.

 

Estou quase a sair da tarde, 21:50 é o toque de saída, é matemático que às 21:45 um doente caiu e encontra-se no chão a meio de uma tentativa falhada de ir buscar o casaco para ir apanhar um táxi, comprar chocolates e visitar a mãe, que tendo em conta a idade dele, a mãe já deve estar é no céu. E na sua proeza de menino fofo que só quer a mãe, pulou, não se sabe como, as grades da cama que o retinham lá, pois concerteza, uma pessoa não esperava menos.

 

Estou quase a sair da manhã, dou por acabado às 14:25, sem demoras ou pré-aviso às 14:18 o doente toca à campainha para avisar que o vizinho, também ele doente, lembrou-se que ter um tubo que entra pela uretra e tem um balão na bexiga para o segurar, é muito mainstream, o melhor mesmo é arrancar. E tudo é uma poça de sangue, urina e por vezes se o azar for grande também merda cocó e nós enfermeiros consoladíssimos com a nossa sina ficamos depois da hora.

 

Nunca mas nunca são coisas simples, como dar um lenço para assoar o nariz ou um "ai desculpe que foi engano." Não, é sempre algo complexo, uma situação drama-comédia na qual somos o protagonista herói meio ogre que vai no seu cavalo branco coxo, capa esvoaçante rota salvar mais uma vez o dia. Posto isto, digam lá que não valemos o respeito que esta profissão exige? Pois tudo isto é ainda feito com um meio sorriso e boa vontade.  

 

É esta a teoria, ainda falta trabalhar alguns parâmetros e tornar a coisa bonita. Mas vejo futuro, prevejo um Bestseller de vendas. Sim senhor.

 

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01.Abr.17

Uma alma apagada é aquela sem livros

Desde que me lembro ser alguém que tinha um livro na mão.

 

Todavia nem sempre foi assim, na primeira classe havia dois grupos na sala de aula, os que já tinham aprendido a ler e outro mais pequenino que ficava à parte que ainda não sabiam. Eu ficava neste último grupo e fui das últimas a sair.

 

São muitas as memórias desta fase da infância, contudo esta é sem dúvida a que mais me marcou e inexplicavelmente é a partir desta que se ligam todas as outras. Como se esta tivesse sido o verdadeiro começo de um amor que acompanhar-me-ia até ao presente em que leem este Post e sem dúvida continuará até não restar nada de mim.

 

Tinha seis anos, estava na mesa com as restantes crianças do meu grupo e tinha acabado de ler a frase a giz que estava naquele, até então, temido quadro de ardósia.

Li como por magia, não que tivesse feito sentido a união das sílabas e por fim das palavras, não dando lugar à lógica mas sim como se de repente tivessem ligado a luz e eu finalmente conseguia ver a cores. E como eram bonitas aquelas cores, que privilégio tinha eu acabado de receber? Na minha mente de criança ainda não cabia totalmente a sua dimensão e fiquei sem respostas, só mais tarde é que viria a descobrir.

 

No entanto, com seis anos algo já me dizia que era colossal o mundo onde tinha acabado de entrar. Naquele instante, mudei de grupo, passei para os crescidos, tornei-me grande mas a maior mudança foi a porta que se abriu de par em par.

 

Desde esse momento, que os livros foram arrebatando as prateleiras, conquistando os mais pequenos espaços do meu quarto e sendo presença assídua no meu dia-a-dia.

Descobri muitos mundos paralelos onde há de tudo e mais alguma coisa.

Personagens heróicas ou vulgares, história ou ficção, presidentes ou feiticeiras, assassinatos a sangue a frio ou apaixonados em fuga.

 

Sou uma pessoa que não me contento com um género literário, todos eles têm um posto na minha cabeça, no meu espaço muito dado à imaginação e (in)felizmente distraído por natureza, que por vezes não me encontro cá mas não desapareci, apenas fui viver para dentro do livro, mergulhei na sua história quase como um espectador omnipresente, muito observador e não são raras as vezes que é dado a querer também fazer parte da acção.

 

É um amor aos livros, uma estima que não tenho por mais nenhum objecto, não há páginas dobradas e não me peçam um livro emprestado que o coração fica apertado quando ele sai da estante para outra que não é a minha, sem saber quando retornará ou se realmente o fará.

 

No final do Blog coloquei o livro do momento, actualizarei sempre que as minhas leituras mudarem de ventos. As pessoas dizem que hoje em dia já ninguém lê, estão enganadas a meu ver, talvez elas não o façam porque pelo que observo ainda se lê muito e ainda bem, nada me deixa mais contente. Ok, mentira, talvez deixarem-me numa livraria com tempo ilimitado e sem limites de orçamento seja melhor.