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Monstera Amarela

Palavras soltas sobre coisas improváveis, situações mundanas, mágicas inertes e sonhos nómadas.

Monstera Amarela

Palavras soltas sobre coisas improváveis, situações mundanas, mágicas inertes e sonhos nómadas.

03.Abr.17

A um toque da campainha

Quando a enfermeira também precisa de um divã

 

Eu estou a construir uma teoria, nasceu de uma ideia que preenche muito até demasiado tempo dos meus pensamentos. Vou passo a passo que isto anda devagar e um dia prometo que terei um livro sobre este tema. Vou expor verdades, segredos obscuros. Eeeeeee aqui vai, não se assustem, mas acredito que uma pessoa doente ganha um instinto, uma qualidade se virmos de outro jeito, que tanto mas tanto azucrina os enfermeiros.

 

E que aptidão inata é essa que mal uma pessoa numa amostra de 20 indivíduos quando entra no hospital e fica internada, vem ao de cima como se sempre tivesse à espera de uma oportunidade para valer o seu mérito e mostrar a meio mundo que realmente existe e não é uma invenção?

 

Pois bem, é a arte da inconveniência, uma arte que roça o importuno, é uma mestria de tal ordem que quase sempre acertam na mouche. Após oito horas de trabalho, muita correria, stress, os nossos olhos e nariz (Sim! O olfacto também entra) só querem tréguas, o corpo fechar a loja e colocar o letreiro "Encerrado para descanso merecido", mas contudo, apesar desta "quase euforia" ainda há ainda aquele intervalo, cerca 15-20 minutos, em que estou prestes a passar a pasta para outro, de dizer adios amigo, arrevoir, tschüss que amanhã há mais.. estamos já na dita passagem de turno ou estou a fazer tempo para ir embora, às vezes acontece, contagem decrescente que faltam 5 minutos, 4, 2 e TRRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMM toca uma campainha.

Zás, raios e coriscos! A cabeça tomba e os olhos rolam, só se vê branco.

 

Toda a sua teoria tem por base as suas hipóteses, conjecturas, enfim exemplos da temática em questão. Por conseguinte, exponho aqui os meus.

 

Estou quase a sair da noite, o turno dá-se por finito às 6:13 então às 6:04 é certo e sabido que alguém pede para ir à casa de banho, e precisa de meias, andarilho, um copinho com água para matar a sede, quiçá aquela bolacha esquecida do jantar de ontem, pelo meio tem também uma infusão a correr e no final ainda pede para lavar os dentes.

 

Estou quase a sair da tarde, 21:50 é o toque de saída, é matemático que às 21:45 um doente caiu e encontra-se no chão a meio de uma tentativa falhada de ir buscar o casaco para ir apanhar um táxi, comprar chocolates e visitar a mãe, que tendo em conta a idade dele, a mãe já deve estar é no céu. E na sua proeza de menino fofo que só quer a mãe, pulou, não se sabe como, as grades da cama que o retinham lá, pois concerteza, uma pessoa não esperava menos.

 

Estou quase a sair da manhã, dou por acabado às 14:25, sem demoras ou pré-aviso às 14:18 o doente toca à campainha para avisar que o vizinho, também ele doente, lembrou-se que ter um tubo que entra pela uretra e tem um balão na bexiga para o segurar, é muito mainstream, o melhor mesmo é arrancar. E tudo é uma poça de sangue, urina e por vezes se o azar for grande também merda cocó e nós enfermeiros consoladíssimos com a nossa sina ficamos depois da hora.

 

Nunca mas nunca são coisas simples, como dar um lenço para assoar o nariz ou um "ai desculpe que foi engano." Não, é sempre algo complexo, uma situação drama-comédia na qual somos o protagonista herói meio ogre que vai no seu cavalo branco coxo, capa esvoaçante rota salvar mais uma vez o dia. Posto isto, digam lá que não valemos o respeito que esta profissão exige? Pois tudo isto é ainda feito com um meio sorriso e boa vontade.  

 

É esta a teoria, ainda falta trabalhar alguns parâmetros e tornar a coisa bonita. Mas vejo futuro, prevejo um Bestseller de vendas. Sim senhor.

 

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