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Monstera Amarela

Palavras soltas sobre coisas improváveis, situações mundanas, mágicas inertes e sonhos nómadas.

Monstera Amarela

Palavras soltas sobre coisas improváveis, situações mundanas, mágicas inertes e sonhos nómadas.

22.Fev.17

Germanices

G e l a d o s.

O ano inteiro. É isto.

 

O gelado é para eles o nosso pastel de nata, recomenda-se o ano inteiro e sabe sempre bem. Faça chuva ou faça sol, ele está ali presente como a primeiríssima sobremesa de eleição, a predilecta seja em copo ou cone, com toda a sua pompa pronto a ser devorado. Agora é fácil falar sobre o assunto sem torcer o nariz, mas demorou a entranhar, porque o choque do início, esse, foi difícil de digerir.

 

Quando parti para Hamburg, estávamos em novembro, era inverno e o frio de Portugal é um menino de fraldas comparado com o que se vive aqui. Presenciei os mais belos estados e fúrias que o inverno tem para oferecer. Desde a neve, à chuva todo o santo dia e a tornados, tudo berrava "Winter is here" por uma unha negra não me cruzei com um white Walker. Os meus ditos casacos de inverno de Lisboa deixaram de fazer sentido em Hamburg, eram o inútil materializado, eles eram nesta terra malha para o verão.

 

Estão a ver o quadro, certo? Com isto uma pessoa espera comidas e bebidas quentes, que confortem, daquelas fumegantes que embaciam os óculos e aquecem a alma, sobretudo a ponta do nariz que corremos o sério risco de a perder. Mas não, isso é secundário, o que está na berra são os gelados. Povo sádico e sem coração pensei eu.

Posto isto, qualquer altura é perfeita para um gelado mesmo quando nos arriscamos a ficar com a língua colada a meio da bola de coco e chocolate devido à estupidez de frio que se faz. Desde crianças aos velhos tudo é varrido com esta anormalidade. Eles lambuzam-se, trincam, têm prazer, vivem para aquele momento como se estivessem com a última coca-cola do deserto.

 

Eu não percebia, como era tola e ingénua, o meu conhecimento era parco e preconceituoso, mas hoje sei. Hoje, eu alcancei a luz. E em pleno inverno, onde as árvores despidas são a paisagem, os corvos gralham e esporadicamente existe vivalma, estou eu, forrada com um casaco polar de meio metro, uma manta que dá duas voltas ao mundo, luvas de pêlo que as mãos sofrem e umas botas de cano tão alto quanto o Evereste, e neste aparato todo, como toda catita o meu gelado. E é bom, muito bom, confesso.

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