Germanices: Um pitéu dizem eles
Há tempos que não pegava nesta rubrica, um dos principais motivos de criar este blog. Não que falte tema, não senhor, há tantos pormenores desta cultura que dá para ambos os evangelhos e mais algum que alguém se pronte a escrever. Apenas tem faltado tempo e mesmo vontade para debruçar-me de cabeça sem dó nem piedade na cultura destes nossos vizinhos mal compreendidos.
Seguindo em frente, hoje dedico-me à culinária, vou que nem a Dora explorar esta enorme rica e variada cozinha, cheia de sensações e sabores novos. São tantos os pratos típicos que nem sei para onde me virar. Acreditem, quando digo que há mais na cozinha alemã que vai para além das salsichas.
Gente, tomara que todo o parágrafo anterior fosse verdade, decerto que seria uma moça mais feliz nesta cidade. Todos os países para onde viajo, os que me ficam a latejar na memória são os que têm as melhores iguarias, mais que as paisagens e os lindos monumentos, dêem-me um prato com comida típica e logo vos digo se fiquei ou não apaixonada.
Chega ao ponto de ser caso para voltar só para entrar naquele mesmo restaurante.
Aqui em Hamburg, a história é diferente, há pratos bons mas nada que me faça perder a cabeça, quando regressar creio que será pelo meu amado Quan do, um restaurante vietnamita que me alimenta a alma.
Apesar disso, sem pessimismos que nem tudo é mau, um dia dedico-me às salsichas, que realmente fazem o estômago bater palminhas. Mas por hoje a ementa é outra.
Após esta introdução, estão preparados?
É um pitéu, comida dos deuses, nada fica de fora, todos querem um bocadinho e vêem-se pequenos laivos de saliva por todo o lado. Os olhos, gananciosos, comem-no logo antes que dê tempo para suspirar.
Labskaus. É o seu nome. Nada complicado. É um prato bastante famoso nestas bandas, típico alemão na zona norte e ainda por cima com história. Não é carne, nem peixe, nem legumes, nem batata ou fruta. Mas sim, uma salganhada disto tudo menos a fruta, misturado, triturado e servido num prato branco, com um belíssimo ovo estrelado por cima a decorar.
É o que eu digo, só gente peculiar, são um povo que cozinha pouco e do que cozinham saem-se com este belo exemplar que só à minha gata é que estaria tentada a dar.
Se eu cheguei algum dia a provar? Claro que sim! Não sou moça de se ficar quando dão algo a experimentar mesmo que meta as minhas tripas à prova e tenha que engolir o meu nojo desdém. Pois bem, armei-me com coragem, deixei de respirar para anestesiar os sentidos e com uma colher contendo uma amostra tão pequenina que nem a sininho alimentava levei à boca.
E txanarammmmmmmmmmm odiei! Mentira, gostei, falo a sério era delicioso, estranho mas depois de entranhado comia-se tão bem quanto papas cerelac, colher atrás de colher.
Fiquei redondamente atónita, e aconselho a qualquer um que tenha estômago e curiosidade em embrenhar-se nesta cultura que peça esta iguaria.
Como qualquer receita existe a boa e a má por isso procurem um restaurante bom lá para as zonas de Hamburg ou Bremen com comida típica alemã e deixem-se ser surpreendidos.
No que toca à história, a criação divina veio dos marinheiros, que em alto-mar sem qualquer método de conservação dos alimentos eficaz, recorriam a legumes em conserva como pickles, beterrabas e outros que não eram tão perecíveis como as cebolas, batatas e ovos. Tudo isto era cozinhado conjuntamente com a carne que era conservada em sal, daí o seu tom rosado.
Hoje pode ser encontrado em variadas versões, com ou sem peixe, um arenque enrolado acompanhar ou o tal belo do ovo estrelado.
A história mais uma vez ensina-nos que a sobrevivência dá azo a pratos que são hoje ricas e saborosas iguarias.