Quando a enfermeira também precisa de um divã
Dou por aberto uma rubrica nova, onde o tema é esta nobre profissão, segundo a minha mamacita, que escolhi. Se é realmente nobre já acho um tema discutível. Desgostos, alegrias e desabafos de uma enfermeira desterrada em Hamburg.
Ando de noites, cinco ao todo. E como eu gosto das noites, da calmaria, do estar sozinha para 24 doentes, se não forem 26, visto que, temos não oficiais, duas camas de corredor. Daquele silêncio bom que é ocasionalmente perturbado por uma campainha a pedir-me água, rezando para que não seja algo pior.
Nisto há vários tipos de doente, um dia hei-de debruçar-me sobre este tema, contudo nunca me tinha calhado conhecer o Grumpy em pessoa, só virou humano e cresceu mais dois metro e meio e é alemão. Terceira noite e o senhor é um dissabor desde o despontar do sol às seis da matina até à hora de dormir. Estou com ele cinco minutos, máximo dez para colocar o antibiótico e saio do quarto a suplicar por unicórnios e arcos íris.
Ele refila, está zangado, tem críticas sobre tudo e sobre o nada. Se vê uma nesga de sangue é caso de vida e de morte. Eu tento acompanhar este atropelamento de reclamações mas após quase nove horas de trabalho e às 5:30 da manhã o cérebro restringiu a sua actividade para metade.
Então hoje respondi-lhe que a vida era muito curta para estar sempre zangado, ele, no seu alemão e entre dentes mandou-me à merda. E é isto. Uma pessoa dá um singelo conselho de filosofia barata e leva esta rebocada. Toda uma nobreza ser-se enfermeiro.