Selfies com o avião é que não
Sou uma pessoa simples e nada dada a superstições, más sortes, mau-olhado, mezinhas e pozinhos para as maleitas ou usar amuletos da sorte na confiança cega de que funcionam. Pelo contrário, adoro gatos pretos e o espelho meu "quem é mais bela do que eu" lá de casa já se encontra rachado no canto inferior direito.
Contudo, não posso, abomino este mal que se propaga mais rápido que a peste negra. São as ditas selfies com aviões, os estados do Facebook a informar meio mundo que vão para certo sítio acompanhado da foto tradicional do pessoal sorridente a embarcar.
Não dá para se ser racional, uma pessoa não aguenta de pensar o pior, de ser dada a negativismos e prever a tragédia que poderá vir acontecer. Ser aquele o dia, aquele voo que vai ser notícia, e esta imagem será o rosto da tragédia, coitado daquele infeliz que despenhou.
Para mim essas fotos são pequenos demos. Capazes de atrair as más energias, são seres malignos, o mal como se tivesse inerte ganha de repente vida e age para ser notícia, para ser recordado, ele existe. Quantas histórias podemos contar que ouvimos, lemos e ficam na memória os retratos das pessoas felizes que embarcaram, os votos escritos para uma viagem segura ou mesmo a ironia de dizer "o pior que poderá acontecer é o avião cair". E assim o infortúnio bate à porta e resolve de fazer isso acontecer. Há rasteiras mais fáceis de superar na vida, esta não é uma delas.
Difícil é esquecer essas imagens. Por exemplo, quando o segundo avião da Malaysia Airlines desapareceu, houve uma foto de uma das vítimas que correu o mundo, ele estava a embarcar no avião e a legenda era algo como "um raio não cai duas vezes no mesmo sítio". Ainda hoje fico com um nó quando penso nisso. Há coisas tramadas.
No meio disto, tenho pavor de voar porém com uma média de 12 voos por ano este medo teve que ser controlado, domesticado para conseguir usufruir do regresso a Lisboa e de viajar sem palpitações loucas e pânicos descabidos.
O meu conselho, registem por favor, tirem a foto sem medos ou pudores, cheios de poses, ar de turista e sinal da paz, mas e só quando o avião aterrar, as luzes dos cintos desligarem e o modo de voo estiver desactivado. Aproveitem também as paisagens e atrações do local que visitam para mostrarem ao mundo e meterem inveja, é que de aviões não há nada de interessante a registar, são todos iguais com mais ou menos desenho.
Ontem infelizmente não tive sorte, e fui eu a fotógrafa de um casal de moças que levou com o mau feitio de alguém que estava manifestamente contrafeito no que estava a fazer. Abstenham-se de o fazer, eu agradeço, afinal posso ser só um pouco supersticiosa.