Eu encomendo livros, uns cinco ou seis por mês, toda uma pequena poupança investida, e vão todos parar a minha casa em Lisboa, quando lá vou trago-os para Alemanha. São das melhores coisas que trago de Portugal. Livros por abrir, cheiro a novo e ocupam-me as horas vagas. Benditos sejam que fazem esquecer-me que chove lá fora em pleno dia de Junho, reforçando, no verão.
A minha mãe, que patrocinou este meu gosto pelos livros durante anos ganhou o direito de os rapinar-me, (...)
A mamacita foi embora, a casa ficou vazia, não há companhia ao pequeno almoço, cheiro a café acabado de fazer na italiana, um lembrar não te esqueças do casaco, desligaste tudo, um grito matinal de bom dia, mãos dadas a descer a rua, bacalhau com natas para um exército, mousse de chocolate caseira, selfies no mínimo parvas, "amar pelos os dois" em modo repeat, passeios longos e abraços apertados.
Ela vai de mansinho embora e deixa-me a conta nadaaaa astronômica do (...)
Ando em passeio, pegamos nas nossas trouxas e em uma hora de avião estávamos no sul da Alemanha. Mais propriamente em Estugarda de onde partiríamos para Singen. Temos família aí, duas primas maravilhosas que nos recebem com o maior dos carinhos e bondade. Mas eu não vim só em passeio, vim em missão, realizar um sonho antigo da minha mãe. Arquitectei o meu plano "maquiavélico" no maior dos segredos e em complô com a minha prima seguimos em direcção ao Bodensee. A terra (...)
Desde tempos idos que a minha mãe tem um hábito, ela surpreende-me com flores que colhe em jardins alheios. Não pensem que são ramos que enchem jarras ou grandes ramalhetes floridos e que o jardim ficou depenado para tristeza do dono. É somente uma única flor, e com esse gesto diz-me que o nosso amor é assim, simples sem grandes artimanhas e bonito quanto aquela flor. Mesmo quando a distância separa-nos entre Hamburg e Lisboa, recebo por vezes fotos de flores que foram colhidas (...)
A minha mãe e eu, fica estranho mãe o mais normal é mamacita, somos idênticas. Nunca tive dúvidas que fosse a filha da mãe que tenho, não há cá processos secretos de adopção antigos nem nada dessas coisas. Basta olhar para a cara de uma e imaginar como era ou ver como será... Apesar desta relação de unha com carne, divergimos numa série de pormenores, feitios e gostos. No entanto, há algo que ganhei da minha mãe, que partilhamos, de fazer a mala e partir, conhecer o mundo (...)