Uma alma apagada é aquela sem livros
Desde que me lembro ser alguém que tinha um livro na mão.
Todavia nem sempre foi assim, na primeira classe havia dois grupos na sala de aula, os que já tinham aprendido a ler e outro mais pequenino que ficava à parte que ainda não sabiam. Eu ficava neste último grupo e fui das últimas a sair.
São muitas as memórias desta fase da infância, contudo esta é sem dúvida a que mais me marcou e inexplicavelmente é a partir desta que se ligam todas as outras. Como se esta tivesse sido o verdadeiro começo de um amor que acompanhar-me-ia até ao presente em que leem este Post e sem dúvida continuará até não restar nada de mim.
Tinha seis anos, estava na mesa com as restantes crianças do meu grupo e tinha acabado de ler a frase a giz que estava naquele, até então, temido quadro de ardósia.
Li como por magia, não que tivesse feito sentido a união das sílabas e por fim das palavras, não dando lugar à lógica mas sim como se de repente tivessem ligado a luz e eu finalmente conseguia ver a cores. E como eram bonitas aquelas cores, que privilégio tinha eu acabado de receber? Na minha mente de criança ainda não cabia totalmente a sua dimensão e fiquei sem respostas, só mais tarde é que viria a descobrir.
No entanto, com seis anos algo já me dizia que era colossal o mundo onde tinha acabado de entrar. Naquele instante, mudei de grupo, passei para os crescidos, tornei-me grande mas a maior mudança foi a porta que se abriu de par em par.
Desde esse momento, que os livros foram arrebatando as prateleiras, conquistando os mais pequenos espaços do meu quarto e sendo presença assídua no meu dia-a-dia.
Descobri muitos mundos paralelos onde há de tudo e mais alguma coisa.
Personagens heróicas ou vulgares, história ou ficção, presidentes ou feiticeiras, assassinatos a sangue a frio ou apaixonados em fuga.
Sou uma pessoa que não me contento com um género literário, todos eles têm um posto na minha cabeça, no meu espaço muito dado à imaginação e (in)felizmente distraído por natureza, que por vezes não me encontro cá mas não desapareci, apenas fui viver para dentro do livro, mergulhei na sua história quase como um espectador omnipresente, muito observador e não são raras as vezes que é dado a querer também fazer parte da acção.
É um amor aos livros, uma estima que não tenho por mais nenhum objecto, não há páginas dobradas e não me peçam um livro emprestado que o coração fica apertado quando ele sai da estante para outra que não é a minha, sem saber quando retornará ou se realmente o fará.
No final do Blog coloquei o livro do momento, actualizarei sempre que as minhas leituras mudarem de ventos. As pessoas dizem que hoje em dia já ninguém lê, estão enganadas a meu ver, talvez elas não o façam porque pelo que observo ainda se lê muito e ainda bem, nada me deixa mais contente. Ok, mentira, talvez deixarem-me numa livraria com tempo ilimitado e sem limites de orçamento seja melhor.